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agora sou "apenas" a mãe

Penso em muitas coisas que não escrevo aqui. Nunca seriam socialmente aceites. Coisas que só admitimos para nós próprias, que os outros tentam desculpar com as descargas hormonais ou a ansiedade do momento. Coisas que soam ingratas e egoístas. Há momentos, que não chegam a ser dias sequer, apenas momentos. Duram alguns minutos, muitas vezes desencadeados por palavras ou gestos sem sentido, em que me pergunto se estou preparada para isto. Se é a altura certa. Se conseguirei a paz de espiríto necessária para não largar tudo e pensar só em mim. Logo depois sinto-te mexer dentro da minha pele e sinto-me a pessoa mais abençoada do mundo, cheia de amor, preparada para tudo. Acabo por me sentir mal comigo mesma devido às limitações que me impões, e mal comigo mesma por ser egoísta a esse ponto. É como uma montanha russa de emoções. Ora tudo me parece errado ou demasiado certo. A verdade é que ninguém nos prepara para todas as alterações que vamos sentir, fisica e emocionalmente. Deixamos de ter o nosso corpo, de conseguir controlar as alterações que nele acontecem, começamos a ser tratadas por mãe. Deixei, pura e simplesmente, de ser a Joana e passei a ser a Mãe. É um estatuto interessante, mas ainda o sinto como redutor. Por fim, todos esperam que estejamos calmas, relaxadas, pacientes, com um brilho nos olhos, com todo o instinto que nos é inerente. E todos nos dizem que vai correr tudo bem, que saberemos sempre o que fazer, que é o melhor do mundo. E, mesmo assim, não é assustador saber que vem aí o melhor do mundo? E que somos nós que lhe estamos a dar vida? Que somos, na verdade as mães da próxima geração? Das próximas pessoas?


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3 comentários

  1. Olá Joana,
    Eu percebo aquele grupo de pessoas que sabem que querem ser mães, mas que ainda não ganharam coragem. Simplesmente porque não vejo a maternidade com todo o lado cor de rosa, bem pelo contrário.
    o meu maior receio é de deixar de ser eu, a Marta. Sei que quero continuar a ser eu, a ter uma vida profissional e pessoal para além do meu filho. Por mais que ele seja a parte mais importante de mim...
    E tenho um receio ainda maior (é mais estupido) que é: "e se eu não sentir nada por aquela criatura? Não posso simplesmente desistir e devolver? E se eu afinal não nasci para ser Mãe?!"...!
    Beijinho Joana
    Marta
    @sagadaemigracao

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  2. Quando penso em ser mãe um dia são exatamente esses pensamentos que me vêm à cabeça... Fico triste por n poderem ser ditos... Quero muito ser mãe mas com certeza não será só um mar de rosas...

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  3. Ser mãe não é um mar de rosas, mas também não posso negar que é um amor que nos enche o coração e que aquela coisinha minuscula é o nosso coração a bater fora do peito. Temos muitos medos, e sim é verdade não poderemos devolver aquele ser minusculo que temos nos braços, mas mesmo que isso fosse possível não íamos querer. Mesmo que a maior parte não diga todas temos os mesmo medos de não ser capazes e de falhar. Quando nasce um bebe nasce uma mãe. De uma mãe de uma princesa de 5 anos com o(a) segundo(a) a caminho e com os mesmo medos como se fosse a primeira.

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