Dentro do espelho

Sou retorcida. Tenho mau feitio matinal. Consigo odiar com todos os átomos que me constituem. Perdoo, mas o pé atrás fica calcetado no chão a partir desse momento. Gosto de certas atitudes severas e de roupa preta. Já usei botas com biqueira de aço. Ainda tenho vontade de fazer disparates dos quais me ia arrepender mais tarde. Gostava de participar num videoclip desta música caracterizada de bad girl. Ainda ouço System of a Down quando acordo a odiar o mundo à minha volta. Gosto e tenho requintes de malvadez. A primeira bebida alcoólica que experimentei foi um shot de vodka pura. Aguentei-me. Secretamente gostava de guardar imagens de um verão como aparecem nos anúncios da Sumol. Penso muito em mim. Não gosto de o admitir. Admito também que penso em mim menos do que devia. Ainda quero dançar até ser de dia e usar meias de rede com calções curtos. Esta música dá-me pica. Às vezes apetece-me tanto mandar as pessoas à merda. Às vezes, mais que as que deveria, gostava de fazer tudo ao contrário. Vestir-me com botas de tachas e calças rasgadas, batatas fritas e coca-cola ao pequeno almoço, olhos pintados de preto, não parar nas passadeiras, baldar-me ao trabalho, ser fora do comum. Às vezes, sou uma adolescente rebelde dentro de umas calças corporate, uma camisa, um blazer e uns saltos altos.