É como tirar um penso rápido. Sentimos muito mais se for demorado. Se for rápido, decidido, custa durante um segundo e já está. Já passou. Nem percebemos porque havia tanto receio, tanto medo, tanto sofrimento por antecipação. Ou então pedimos a alguém que o faça. Fechamos os olhos com força, imaginamos a água do mar nos nossos pés e o sol a queimar a pele, aquele cheiro a férias, a felicidade, a coisas boas que não acabam nunca, como os dias, tão grandes, tão cheios de luz, tão infinitos. Quando voltamos a abrir os olhos, olhamos para o que restou na nossa pele e é tão insignificante. Um arranhão que nem vai deixar marca. Tenho para mim que há dois anos que inspiro fundo e puxo devagar. Milímetro a milímetro. Sem dar um ai, sem que ninguém dê por nada. Sem dar parte de fraca, sem ajuda, tenho descolado demoradamente, tenho guardado tudo cá dentro. Mas agora decidi que devia acabar com o meu próprio sofrimento, que era altura de ganhar coragem e fazê-lo de vez. E fiz. E doeu um bocadinho. E agora vou esperar para ver se deixa cicatriz. Mas mesmo que deixe, reconheci que doeu menos num segundo, do que durante estes últimos anos.
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