Para escrever é preciso sentir. As palavras que nascem da ponta dos dedos vêm mesmo de dentro. De memórias já esquecidas, momentos ultrapassados, situações angustiantes. É como olhar para o futuro de costas. Faz parte de nós, mesmo que já esteja arquivado. São momentos avassaladores, que podem durar de poucos minutos a algumas horas. Mas são necessários. Procuram-se fotografias antigas, papéis gastos pelo tempo que estão esquecidos no fundo do roupeiro. Amores que ficaram pelo caminho e palavras doces ditas baixinho ao ouvido. As promessas que não foram cumpridas acabam sempre por cumprir o seu papel, assim como as músicas associadas a cada momento. Hoje tropecei numa imagem muito antiga, lá mesmo de trás, senti o ar fugir do peito e a cabeça a deambular pelas coisas que ficaram por dizer. Imaginei cada pormenor, cada sítio, cada gesto. E escrevi. Muito. Escrevi para largar tudo outra vez. Escrevi como se tivesse sido ontem, mas também para enfrentar o que ficou por sentir. Porque tem de ser. Porque é preciso sentir tudo e encerrar cada capítulo. Dentro de nós e das palavras que se guardam.
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