Pages

Três meses em oitenta anos

O síndrome de filho único / primeiro filho é difícil de gerir. Somos os únicos, os primeiros, os centros das atenções. São pesos de uma vida, muitas vezes aquela que não se quis, sobre os nossos ombros. Todos os desejos, orgulhos, medos, todos os olhares se viram para nós. Somos os que abrimos a porta à puberdade, adolescência, juventude e temos de quebrar barreiras, esticar a suposta "desobediência" até à liberdade adulta. E é aqui que as decisões de tornam difíceis de aceitar. Muitas vezes até de suportar. Tudo está certo e planeado na nossa cabeça, mas ao dizê-lo em voz alta a realidade atropela-nos a mil à hora. Duvidamos, trazemos todo o medo à flor da pele, perdemos o apetite, começamos praticamente a aceitar a derrota. É a nossa vida por um fio. É o futuro incerto e a vontade a correr nas veias. Serão três meses suficientes para nos derrotar? Serão três meses, numa vida de oitenta anos, a nossa desgraça? A nossa perda de capacidades? O nosso ponto final? Confiamos em nós para ficarmos por nossa conta e risco? Porque aos oitenta anos, sentados no sofá da sala vazia e fria, com a família longe e a sopa a aquecer no fogão, é tudo o que nos vai restar. A memória do que vivemos, do que fizemos, as decisões contra tudo e contra todos, os nossos sonhos realizados, a nossa viagem pelo mundo.
SHARE:

Sem comentários

Enviar um comentário

© O que vem à rede é peixe. All rights reserved.