Não foi fácil fazê-lo sem ti.
Mais difícil ainda é admiti-lo. E não falo de fazê-lo sem ti fisicamente, mas
emocionalmente quase nunca cá estiveste. Desde o início que percebi que não
iria ser a fase mais bonita da minha vida. Uma complicação arterial obrigou-me
a vir cedo para casa e ao mesmo tempo começaste uma nova posição profissional
que te ocupa todo o tempo disponível. O resultado ao início foi desastroso. Eu
queria atenção, tu querias atenção. Eu não queria ouvir os teus problemas e tu
não davas importância aos meus. Houve momentos em que perguntámos em silêncio o
porquê de ter sido naquela altura, se íamos ter capacidade para ultrapassar
isso. Eu guardava tudo cá dentro, tu deitavas tudo para fora. Não havia o
brilho, as fotografias, as escolhas, as conversas duravam pouco tempo, o pouco
tempo que havia para nós. Houve muito silêncio dentro destas quatro paredes,
muita solidão, muitos pensamentos estranhos, muitas incertezas. Muitas noites e
compras decisivas sem ti. Depois parámos e decidimos que tínhamos de fazer
alguma coisa acerca disso. Eu deixei de ser egoísta em relação ao que se estava
a passar, tu deixaste de ser negativo em relação aos teus dias. E agora estamos
num bom equilíbrio que, muito em breve, vai mudar para sempre. Quero dizer-te
que talvez seja eu a próxima a ausentar-me. Que posso estar aqui física, mas
não emocionalmente. Que quero que tentes contrariar isso, que quero ter olhos
também para ti. Peço-te já desculpa por estar demasiado envolvida com quem vai
chegar à nossa família muito em breve, dizem ser normal, que depois passa. Mas
eu sei o quanto precisas de mim, o quanto preciso de ti e o quanto precisamos
dos dois. O quanto precisamos de olhar apenas um para o outro. Porque só
funcionamos assim.
das gestões mais difíceis de sempre. e não, gostar - só - não chega. parabéns pelo sebastião e muita força para ultrapassar diferendos e sabotar os silêncios. são estes que dão cabo de tudo.
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