Cruzo as pernas e sento-me no chão em frente à estante. Lá de cima espreitam os livros de diferentes autores. Muitos que me acompanharam durante a infância e adolescência. Ao nível dos meus olhos estão os volumes maiores, para quando fiquei crescida e comecei a atingir um nível diferente de literatura. Mas os meus preferidos estão escondidos nesta prateleira do fundo. São tantos que estão dispostos em duas filas, nos seus tons de verde e vermelho escuro. Depois, mais à direita, indiferente aos bichos do papel e ao pó que se acumula ao nível do chão, está aquele que me traz mais prazer visitar. Velho, com a lombada já ligeiramente carcomida pelas três mudanças de casa e a minha insistente vontade de o folhear só mais uma vez. O álbum de fotografias do casamento dos meus pais. Abro-o e sou invadida pela melancolia e felicidade daqueles momentos, como se fossem meus. Primeiro saltam-me à vista os sorrisos, as expressões corporais, as pessoas de família que não vejo há anos ou mesmo os que já só vivem no papel, depois sorrio sempre com o choque das roupas que se usavam e por fim reparo na luz. O dourado que envolve a película e as cores pastel. São fotografias que retratam perfeitamente o que era vivido. Sem edição, sem filtros, sem passarem pelo computador e serem expostas aos mais variados métodos artificiais. Atrás do álbum, dentro de uma caixa, está a máquina fotográfica analógica com mais de vinte anos. A que tirou muitas das imagens que gosto tanto de ver. A que eternizou a felicidade desta família em tantos momentos especiais ou apenas no mais banal dos dias.
É tempo de lhe dar uma nova vida.
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