Sentei-me e esperei. Um pombo pousou numa das muitas placas que assinalam o destino destas linhas férreas. Que correm, correm por muitos e longos quilómetros, trazem e levam pessoas de volta a casa. Também eu estou de volta a casa. À terra que palpita no meu pequeno coração. Estou de volta a estas carruagens que fizeram parte de muitos momentos da minha vida. Momentos bons e menos bons. Ao som de música e de palavras impressas em páginas de papel que trazia sempre no colo. Muitas vezes escrevia as minhas próprias palavras na minha cabeça, passava em revisão toda uma situação imaginária, com personagens e ficção para não cansar o espectador. Mas cansava-me. De sentir, principalmente. Foi numa destas carruagens onde agora entro que chorei o fim do meu primeiro amor, no último comboio da noite. Escondida entre os bancos e a música nos ouvidos, relembrei todas as pequenas coisas e por todas fiz questão de secar as lágrimas. As mesmas que ficaram para trás quando me sentava neste comboio às primeiras horas da madrugada e levava o coração cheio de esperança por uma vida melhor. O mesmo coração cansado que carregava dentro do peito de volta à minha terra quando a esperança morria, por último. Tudo passou, mesmo quando abandonei o comboio ele continuou a seguir os mesmos caminhos, as mesmas linhas do destino, parou nas paragens de sempre e conheceu novas pessoas de todos os dias. Arrancamos à hora, por fim, e escolho o mesmo lugar, aquele que já teve o formato do meu corpo. No colo levo uma nova resma de folhas que me obrigam a abandonar este dia durante alguns minutos. O sol aquece-me as mãos, onde o meu coração descansa. "Não amamos menos um lugar por termos sofrido nele" confessa-me a autora na primeira página. A ironia da verdade que volta a acordar o meu coração meio adormecido e que me faz reviver as viagens de sentimentos tão díspares aqui vividos. Acorda coração, estamos de volta a casa, e não consigo imaginar o fim desta viagem.
"Não amamos menos um lugar por termos sofrido nele", Jane Austen
Bonito texto :)
ResponderEliminarObrigada Doyle :)
EliminarBeijinho*
Adorei! Palavras sábias...estava a ler o texto e a sorrir porque é exactamente o que sinto quando volto a fazer viagens de comboio para a minha cidade do coração! É sempre um relembrar do passado, passado esse que era tão mais fácil!
ResponderEliminarBeijinhos Joana e parabéns, texto maravilhosos :)
Obrigada... gosto muito de descobrir o quanto se identificam com as palavras que escrevo, afinal são do coração <3
EliminarUm grande beijinho
Conseguiste envolver-me pelas tuas palavras, um texto sentido! Essa frase da minha autora favorita é bem verdade! Adorei simplesmente :)
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Gosto da Jane. E gosto do que deixas transparecer.
ResponderEliminarQue bonito, Joana! :)
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