Deixo os vinte para trás. Deixo a pressão dos dez anos da nossa vida em que temos de definir qual o nosso caminho. A definição profissional, a escolha da pessoa certa para ter ao nosso lado, a conquista de um lar, de um carro, da maturidade. Deixo para trás anos de uma grande revolta e insatisfação pessoal. De algum sofrimento. De muitas batalhas perdidas, tanto com outras pessoas, mas principalmente comigo mesma. Deixo para trás uma profissão que nada me diz, pessoas que nada me dizem, lutas que já não vou ganhar.
Entro nos trinta com a certeza de que cumpri muito do que esperavam de mim. Mas quase nada do que estabeleci para mim mesma. Colmatei muitas falhas no meu carácter, percebi o que não quero fazer, agucei os sentidos para a beleza colateral. Coisas que sempre me trouxeram entusiasmo, mas às quais dei pouca importância no devido momento.
Chego aos trinta com a pessoa que amo, com um lar, com alguns países conhecidos, com um cuidado e atenção ao meu corpo que nunca tive, com poucos mas bons amigos.
Chego aos trinta com uma lista imensa de sonhos por concretizar. A viagem que não fiz, o voluntariado para o qual nunca tive coragem de partir, o sonho profissional ainda meio desvanecido. Ñão sei se vou conseguir cumprir os pontos que ficaram sem uma conclusão, mas sei que começo a ter maturidade para aceitar que a vida nos dá pouco tempo e poucas oportunidades para atingi-los.
E essa, para mim, é a grande lição dos vinte anos. As oportunidades só surgem uma vez. O
tempo não pára mais para voltarmos a reflectir sobre elas. O
tempo e as oportunidades são agora. Não são hoje ao final da tarde, amanhã ou no próximo mês. O
tempo é
agora.
Voltando dez anos atrás, o que teria dito baixinho à miúda despreocupada com todo o tempo do mundo:
Agarra o tempo. Abre os olhos para o que está a tua volta. Não podes voltar a este momento. Vai. Simplesmente vai.