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6 meses de ti

○ Ficas sentado sem apoio
○ Falas imenso contigo próprio
○ Comes tudo o que te damos
○ Não gostas de beber água
○ Adoras chapinhar na água do banho
○ Queres agarrar a Sushi e o Tó cada vez que passam por ti
○ Vais a observar tudo no marsúpio
○ Não gostas de sol na cara
○ Choras cada vez que me vês afastar


Dia do baptizado 18 Novembro 
Foto: Mafalda Rodrigues
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Quero ficar sozinha este natal

Estou cansada de pessoas. De palavras e más atitudes. Estou cansada de pessoas que nem se apercebem das más atitudes que têm. Cansada de tentar agradar a tudo e todos e ninguém se esforçar para me agradar a mim. É sempre nesta altura do ano, com o aproximar de um recomeço que me viro um bocadinho mais para dentro de mim própria e começo a pensar em tudo o que deixem em stand-by cá dentro. Todos deixamos demasiadas coisas sem stand-by dentro de nós, muitas delas por tempo indeterminado, palavras que tentamos esquecer, situações que evitamos, atitudes que engolimos para não ficarmos mal vistos. Mas este ano, particularmente este ano, não sei se por ser mãe e dar outra importância às coisas e às relações, existem coisas demais que não posso calar. Não me apetece ser mais uma pessoa que come e cala. Quero e gostaria de entrar no novo ano mais leve, mais eu, mais transparente com o que gosto e o que não gosto. E possivelmente mais sozinha. Porque o grande motivo destas palavras que nunca são ditas é o medo de acabarmos sozinhos, de os outros levarem a mal o que queremos expressar. Mas não nos magoaram a nós primeiro? Devemos dar sempre a outra face? ou simplesmente responder com a outra mão e ficamos quites? 
Estou cansada de familiares que nos põem entre a espada e a parede, que nos tiram o chão durante dias por falta de apoio e nem se apercebem disso. De críticas vindas de pessoas que me viram crescer, que me dizem que o meu filho chora e a culpa é do colo que lhe dou. Que, se ele está num pico de ansiedade de separação, a culpa é minha, por ter estado os últimos seis meses e meio vinte e quatro horas por dia com ele. Devia tê-lo deixado chorar, isso sim. Para ser pior mãe e ele não gostar tanto de mim. 
Estou cansada de palavras vazias, de palavras sem honra nem valor. De  amigos que faltam a ocasiões especiais em cima da hora, que tanto trabalho nos deram a preparar, para lhes proporcionar momentos felizes e inesquecíveis, de ninguém me bater à porta quando digo que me sinto tão tão cansada, de amigos que pensava eu serem tão importantes e há meses não saber nada deles. Estou cansada de fins-de-semana a tentar criar boas recordações e, no final, apenas eu, o meu marido e o meu filho, não termos uma única fotografia juntos. 
É um mito dizerem que quando somos pais nos afastamos. Não somos nós que nos afastamos, são os outros que se afastam de nós. Sim, talvez não tenhamos tanta disponibilidade, mas e o esforço do outro lado? Lembro-me de há uns tempos atrás ter ido ter com uma amiga, no meio de um dia de trabalho, para lhe dar um saco de gomas porque no dia antes tinha perdido o seu querido animal de estimação. Será que o gesto foi maior para mim do que para ela? Será que depois de tantas noites sem dormir nunca pensei que ela me viesse bater à porta "com um saco de gomas"? Será que sou apenas eu que sou má pessoa porque dei e agora quero receber? Afinal o que são gestos de amizade? O que são estes pequenos pormenores na vida das pessoas? Perdemos estes valores? Ficaram pelo caminho?Ou então estou simplesmente cansada, apenas. E tudo tem outra dimensão e outro peso. Mas a verdade é que me apetece pegar no telefone e dizer a cada uma destas pessoas o quanto me magoam ou magoaram. Apetece-me deixar tudo dito em 2017. Não levar nada por dizer para 2018. 
E o que me apetece, verdadeiramente, é estar sozinha este natal. Só não o faço porque, mais uma vez não quero privar as pessoas próximas do meu filho do seu primeiro natal e, mais uma vez, vou dar sem receber.






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