De repente pensei para mim:
Quero ser igual a esta pessoa? Quero atingir o que esta pessoa atingiu?
E a resposta foi não.
Olhei para quem estava do outro lado da secretária, ganhei fôlego e disse desisto.
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E assim que disse a palavra desisto respirei fundo e percebi que estava à espera de dizê-la há tempo demais. Que aquela palavra saiu cheia de força, cheia de si própria, cheia da pessoa que se perdeu pelo caminho, mas que agora dava o primeiro passo na direcção certa. Cheia de mim.
Não quero ser uma pessoa que está presa a um trabalho que não a faz feliz, não a desafia, não lhe dá qualquer hipótese de criatividade, de desenvolvimento pessoal e profissional. Quero ser livre nas minhas escolhas, nos meus horários, quero que o meu filho perceba que somos nós que conquistamos a nossa liberdade, que as nossas decisões são importantes, são a base de quem somos. Que temos de perceber os sinais, não podemos passar anos a ignorá-los. Que a constante luta no dia a dia para equilibrar família e trabalho não nos deve levar à exaustão, que no tempo em família não temos de responder a emails e preencher relatórios, que devemos ouvir o nosso corpo quando começa a ficar doente. Eu estava doente. Fisicamente. A minha cabeça estava uma confusão. E eu teimava em não querer ver os sinais todos à minha volta. O facto de não me importar de ao fim de semana “trabalhar” para o meu site, estar constantemente em stress para ir buscar o Sebastião à escola, as manhãs a correr para chegar a tempo e depois ter de esperar horas em pé, o tempo desperdiçado durante o dia em que podia estar a trabalhar para mim mesma, para o meu futuro, para o que quero que seja o meu caminho.
Vai ser fácil? Não. Mas sei que não vai ser mais difícil do que era. Vamos ter de ajustar o nosso dia a dia apenas para um ordenado? Vamos. Mas tenho ao meu lado a única pessoa até hoje que sempre, sempre me disse que eu tenho é de ser feliz. Que o meu potencial é enorme, que não podia estar a desperdiçar os meus dias no que estava a fazer. Que se eu estiver bem, se estiver leve e confiante, a nossa família vai ser mais feliz. Que não posso continuar a arrastar-me num trabalho que não me deixa crescer enquanto pessoa, enquanto aquilo que quero ser.
Tenho 31 anos. É hora de agir. É hora de fazer alguma coisa por mim. Toda a vida fazemos coisas pelos outros, pelos nossos pais, pelos nossos maridos/namorados, pelos nossos filhos. E nós? E a nossa felicidade? E o nosso potencial? E os nossos sonhos? Se pararmos 1, 2, 3 anos na nossa vida para crescermos, para nos levarmos ao melhor de nós próprios, o que vai significar essa pausa quando tivermos 80 e olharmos para trás? Nunca será de arrependimento. Será de satisfação, de orgulho pelo que alcançamos, será para nos apercebemos que aquela pausa nos fez felizes, nos trouxe coisas muito boas, nos permitiu realizar sonhos. Aqueles sonhos que querem que estejamos prontos a decidir aos 17 anos quando temos de escolher o que queremos fazer na vida, mas não sabemos nada do mundo. Uma pausa para ser feliz, para consequentemente fazermos os que estão à nossa volta mais felizes.
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E como saber qual é o momento certo?
Basta uma pergunta:
Sair agora vai fazer-me sentir pior ou mais aliviada?
Façam esta pergunta dentro de vocês. O que sentem? Sentem uma pressão gigante no peito ou o coração mais leve?
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Quando me afastava passo a passo, olhei para trás. Para o carro, para o computador, para o telemóvel, para o logotipo. E senti-me, finalmente, livre.
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