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Last dance
"Gosto de um episódio da série de desenhos animados do Bip Bip, em que o coiote está dentro de uma cabana e quando vê que o comboio o vai atropelar baixa as persianas. É como as crianças quando fecham os olhos para desaparecerem e dizem "Não estou."
Esta é a atitude que, infelizmente, muitas pessoas ainda continuam a adoptar nos momentos de profunda transformação em que vivemos. Em vez de saírem da cabana, construírem uma nova ou pensarem em como acabar, de uma vez por todas, com o Bip Bip, baixam as persianas e acreditam que assim a mudança não acontecerá.
Há uma fábula na qual um cão está sentado sobre um prego e um outro cão pergunta-lhe porque não se levanta. O cão responde: «Porque me dói menos do que quando me levanto.» Às vezes, embora a água já nos chegue aos tornozelos, pensamos: «Não me incomoda o suficiente para me ir embora.» E então a água continua a subir, primeiro até aos joelhos, depois até à cintura... e, ao adiarmos o momento da tomada de decisão, perdemos um tempo valioso.
A vida vai avisando, com pequenos sinais, quanto às coisas que precisamos de alterar ou que já não funcionam. O que acontece é que não ouvimos. Preferimos continuar no convés, a dançar ao som da orquestra, em vez de prestarmos atenção aos sinais de que algo não está muito bem com o barco."
da Sofia
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NY, the end
Passa-me pela cabeça viver aqui enquanto engulo com prazer os cachorros quentes mais famosos do mundo no Grays Papaya. Ninguém olha duas vezes para a mixórdia de gente nas ruas. Está tudo concentrado nos seus pensamentos. Ou onde vão comprar o próximo balde de café. Todas as mesas, lojas, passadeiras, bancos de jardim, estão ocupados. Há arte em todo o lado. Há coisas bonitas em todo o lado. Páro vezes sem conta a meio das passadeiras para fotografar as avenidas que se estendem até ao fim do mundo. Na sombra das fachadas de tijolo juntam-se rulotes de pizzas, cachorros, hamburgueres, pipocas com os mais variados sabores. Está tudo condicionado nesta ilha. As galerias de arte são apaixonantes. As lojas são alternativas e discretas. Na cidade dos extremos, dos radicalismos, de milhares de culturas que vivem em sintonia, não há maior discrição. Ninguém sobressai, ninguém chama a atenção. Tudo é certo. Tudo é normal. Não há espaço para narizes empinados e juízos de moral. Podemos comer pipocas ao pequeno-almoço, acompanhadas de diet coke. Misturamo-nos no meio da massa de pessoas que aqui vive. Há uma normalidade implícita. É a nossa segunda casa, de tão confortável que é. Onde existe liberdade para sonhar e onde tudo pode ser concretizado. NY I'm in love with you. E agora fazes parte da minha vida de uma forma tão especial. Nova Iorque, onde fui pedida em casamento. Onde começa a nossa história.
Pequenos prazeres
É difícil uma série mexer tanto comigo como esta. É quase como um vício. Dou por mim a pensar naquelas vidas várias vezes ao dia. A rever comportamentos. A tentar perceber o rumo daquelas personagens. Choca-me sempre. Em todos os episódios. É forte. É chocante. É avassaladora. Expõe tudo. Carne, sexo, drogas, comportamentos impróprios, violência, armas, sentimentos, laços familiares. É uma corda que nos puxa até à superfície da crosta terrestre em cada acção levada a cabo por eles. É imprópria para menores de idade e para quem se sensibilize facilmente. Eu, sou uma mente deturpada e gosto de passar os meus próprios limites. O nome Shameless foi escolhido a dedo. E tem uma banda sonora divinal. E faz-me chorar. E levar-me muito mais a sério.
IMDb- 8.7
Dar tempo ao tempo
A nossa lista não tem fim. Tem muitas letras e muitas imagens. Muitos estados de espírito. Muitos quilómetros. Mas é nossa. Preenche-nos os serões e as viagens de carro. Preenche o vazio do dia-a-dia. O meu medo é que esta vida não seja suficiente. Que fique a meio. Medo de desperdiçar os dias com futilidades e as noites mal dormidas com sonhos desfeitos. Mas só assim fazemos sentido. Os teus planos e os meus. Lado a lado. O Japão e a América do Sul. A mochila às costas e a máquina analógica. Os azulejos da cozinha e a comida vegetariana. A Costa Rica e o marisco em Cabo Verde. A casa no Parque das Nações e nas Avenidas Novas. Os dois cães e um jardim. O casamento num Palácio e três bebés. Os fins de semana na costa alentejana e as corridas no paredão. A plantação de canónigos e as ilhas Gregas. Tantos sítios para conhecer, tanto por onde crescer. Tanto para viver. Por favor tempo, abranda. Tanta pressa para quê?
A cadência dos finais felizes
Há quem diga que a recta final é a mais difícil. A que pressupõe o maior esforço. A meta está lá ao fundo, faltam apenas poucos quilômetros, mas as pernas pesam chumbo. É quando já nos apercebemos que vamos ganhar ou perder, quando o sol fica mais forte e já não temos água que nos refresque a boca. O início foi suave, com toda a força, pensamento positivo e olhar na vitória. A meio vamos sendo ultrapassados, fazemos um sprint adicional mas não superamos a descida do pódio. Quando se começa a perder terreno, o piso começa a inclinar. Pé ante pé vamos caminhando e fazemo-nos indiferentes às bolhas que já se formaram e ao esforço a cada batimento cardíaco. Por fim aceita-se a derrota mas a persistência não nos deixa desistir. Começam os últimos quilómetros. Com cadência, disciplina e muita fé no que está para além da meta. Depois de aceitar, de compreender, de fazermos as pazes connosco, é preciso deixar acontecer. Deixar que a sorte nos leve até lá. Deixar que o coração nos guie.
[uma vida inteira de trombas para ver a vida ir-se embora assim]
Para mim tem o mesmo efeito do que andar descalça na relva. Ou melhor. É andar descalça à beira mar nestes primeiros dias já atrasados da Primavera. Não há nada no mundo que pague isto. Chegar a casa, descalçar os saltos e tirar a roupa formal, enfiar uns jeans, uns chinelos e dar corda às perninhas até ao outro lado da estrada. Inspirar o ar salgado, queimar a cara com o sol do fim do dia. Passar pelos aglomerados de pescadores a tentar vender o que o dia lhes rendeu, ainda aos saltos dentro das caixas de plástico. É a frescura no seu melhor, a água límpida, a praia paraticamente deserta. Arejar as ideias, pensar em coisas boas, fazer uma espécie de discurso inspirador do dia. Porque a vida é isto. Acaba não tarda nada.
"nestes momentos em que o cancro se torna assunto é inevitável pensar no meu pai. não nas saudades que tenho mas na doença que o matou. o meu pai foi, durante toda a vida, e muito por consequência da morte da minha avó com um cancro muito doloroso, um homem triste. aquelas pessoas sempre com duas rugas na testa, zangado com a vida. quando o meu pai descobriu que tinha cancro, não ficou zangado, entregou-se aos médicos e mostrava uma serenidade brutal. depois da primeira operação, em que lhe foi removido um tumor maior que uma bola de futebol, o meu pai mudou. fizemos viagens, mimou a minha mãe, passeava, jantava fora e sorria. disse-nos: uma vida inteira de trombas para ver a vida ir-se embora assim.
e essa frase marcou-me para a vida. para a minha vida."
NY, dia 3
Nova Iorque é despretensiosa. Acho que é a palavra que lhe assenta melhor. Estava eu convencida de que ainda não tinha visto variedade suficiente quando entrei no metro. É lá que estão as pessoas que constituem esta cidade. Ar de gangsters, dreads, bonés, calças largas, ténis adidas, preto total, cabelos roxos. São as mentes livres que percorrem a cidade por dentro sem pagar bilhete e entram à nossa frente na Prada. Sem moralismos. Todos sorriem a toda a gente. Ninguém me olha de lado quando entro no centro comercial de nível económico acima do meu. Homens de fato e gravata engolem cachorros quentes que se vendem à beira da estrada. É esta a liberdade de expressão que nos apaixona. Não existe a roupa certa ou errada. É de bom tom passar juntamente com a multidão, mesmo que o sinal de peões esteja vermelho. Todos ao mesmo nível. Convivem na mesma mesa da biblioteca pública um homem de negócios, uma universitária e um rastafari. São almas livres, rodeados de anos e anos de história encavalitados até ao tecto nas estantes de um dos edíficios mais bonitos da cidade.
Milhares de língua e sorrisos que se cruzam nas ruas. Cheia de bom astral. Os arranha céus enquadram-se perfeitamente na vida de todos, o chão é vibrante, o ambiente fácil. A cidade das mil e uma ideias, as fachadas de tijolo guardam a criatividade e embalam-nos no estilo que caracteriza esta ilha. Manhatan, boémia, despretensiosa, simples. De uma simplicidade extrema ao estarmos no centro do mundo.
encontrar a felicidade pelo caminho
Relaxar o corpo preso ao stress do dia-a-dia e sentir as articulações estalar sob a pressão dos tendões. Parar e perceber o que está errado, que afinal a prioridade número um devia estar no fundo da lista. Que a pele começa a desgastar-se e o coração ainda tem tanto para dar. Vamos ser outras pessoas. Vamos vestir o lobo de cordeiro e vice-versa. O que nos apetecer. O que nos fizer felizes. Só o avião e o oceano nos separam da vida que queremos neste axacto momento. Sem juízos de moral, pedidos de desculpa e reticências. É um recomeço. São dias para tirar folga de nós mesmos. Como uma licença de sobrevivência. Vamos viver Nova Iorque, respirar Nova Iorque, ficar com Nova Iorque no nosso caminho, na nossa vida, na nossa história de amor.
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